Demissões em massa no setor de apostas expõem crise
- Fred Azevedo
- há 2 dias
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Nos últimos dias, o setor de iGaming e apostas esportivas no Brasil foi surpreendido por uma onda de demissões que evidencia os primeiros efeitos colaterais da nova regulamentação imposta pelo governo federal. Segundo apuração de bastidores, a casa de apostas VBET teria dispensado mais de 100 funcionários em uma única tacada, com cortes comunicados de forma abrupta e por e-mail, segundo relatos de profissionais do setor.

Outra empresa mencionada em conversas entre executivos da indústria foi a EstrelaBet, citada como uma possível segunda operadora com desligamentos recentes, embora ainda não haja confirmação oficial por parte da empresa.
A movimentação acendeu um alerta na comunidade do iGaming. Profissionais como Marcelo Vazao, Head de Marketing e figura atuante no ecossistema, utilizaram o LinkedIn para mobilizar a rede e oferecer apoio aos demitidos. Um formulário criado por Marcos Noronha, com apoio de Conrado Caon, vem sendo compartilhado para acelerar o processo de recolocação de quem perdeu o emprego.
“Infelizmente houve uma série de desligamentos em casas de apostas. Para ajudar essas pessoas, criamos um formulário de networking com o objetivo de divulgar os profissionais desligados”, disse Vazao em sua publicação.
Crise no setor legalizado e avanço dos operadores ilegais
O momento delicado vivido pelas casas que operam dentro das regras da Lei nº 14.790/2023 escancara uma realidade incômoda: a regulamentação, embora necessária, foi implementada de forma que onerou desproporcionalmente os operadores legalizados. As exigências fiscais e tributárias pesadas, aliadas à ausência de um sistema eficaz de combate à concorrência ilegal, criaram um cenário de desequilíbrio brutal.
Segundo fontes da indústria, operadores ilegais seguem atuando no Brasil sem qualquer restrição prática, representando até 50% do market share. Enquanto isso, as casas licenciadas são obrigadas a seguir uma legislação rígida, com custos operacionais muito maiores — o que gera impactos diretos em sua capacidade de manter equipes e crescer de forma sustentável.
“A lei está matando quem tenta fazer o certo. E o mercado clandestino só se fortalece”, desabafou um executivo que pediu anonimato.
Consolidação do mercado e desrespeito ao jogo responsável
Outro efeito visível dessa nova fase é o aumento das propostas de aquisição entre operadores. Sem espaço para operar com margens saudáveis, grandes grupos têm feito ofertas semanais para comprar casas menores, num movimento de consolidação acelerada. Isso, no entanto, pouco resolve o problema estrutural.
Ao mesmo tempo, muitos operadores — legais e ilegais — ignoram completamente as diretrizes de jogo responsável. O crescimento da publicidade agressiva, os bônus disfarçados de promoções e a ausência de ferramentas de proteção ao jogador mostram que, mesmo com regulação, a proteção ao consumidor continua frágil.
Regulamentação sim, mas com fiscalização real
Desde janeiro de 2025, quando a regulamentação passou a ser plenamente válida, o que se esperava era um mercado mais justo, seguro e equilibrado. Na prática, as primeiras vítimas foram os trabalhadores, não os operadores fora-da-lei. E pior: os consumidores seguem expostos a práticas abusivas, com poucas opções verdadeiramente seguras.
Se nada mudar, o risco é claro: as casas legalizadas podem deixar o país, o mercado ilegal vai dominar, e o Brasil continuará exportando talentos do iGaming — em vez de consolidar um dos maiores mercados regulados do mundo.
Enquanto isso, os profissionais desligados buscam recolocação. E o setor aguarda respostas que ainda não chegaram.
Se você foi impactado pelas demissões, preencha o formulário de recolocação profissional no setor de iGaming e apostas esportivas. Sua experiência pode ser rapidamente aproveitada por outras empresas da indústria: